A
dentina e a polpa são dois tecidos intimamente relacionados
A
dentina é um tecido mineralizado de natureza conjuntiva, constitui a maior
parte da estrutura do dente, sendo recoberta pelo esmalte, na porção coronária
e pelo cemento na porção radicular. Ela aloja em seu interior a polpa dentária
(tecido conjuntivo não-mineralizado). Esses dois tecidos constituem o complexo
dentina-polpa.
A
constituição orgânica e mineral da dentina é semelhante à do tecido ósseo
A
dentina é uma estrutura avascular que não apresenta células no seu interior.
Apenas os prolongamentos dos odontoblastos estão dentro de túbulos que a
percorrem desde a polpa até a junção amelodentinária, embora geralmente eles
não preencham esses túbulos até o fim. Além disso, a dentina apresenta
semelhanças com o tecido ósseo. A dureza da dentina é considerada um pouco
maior que a do osso, devido ao seu maior conteúdo mineral (70%), na forma de
hidroxiapatita. O restante da sua composição é 18% material orgânico e 12%
água. A dureza da dentina pode ser maior que a do osso, porém é menor que a
dureza do esmalte que a cobre. A dentina possui certa resiliência
(elasticidade) devido a sua estrutura tubular, desempenhando importante papel
na sustentação do esmalte, amortecendo as forças da mastigação, reduzindo a
possibilidade de fraturas.
A
dentina apresenta cor branco-amarelada, que é parcialmente observada desde o
exterior devido à translucidez do esmalte. Sendo a principal responsável pela
cor do dente, sua cor amarelada torna-se geralmente mais intensa com o avançar
da idade.
A
polpa, é um tecido conjuntivo não-mineralizado rodeado pela dentina. Ela se
comunica com o ligamento periodontal, através do forame apical e das foraminas
acessórias.
Desenvolvimento
(Dentinogênese)
A
dentina e a polpa se originam da papila dentária
Durante
o processo de formação da dentina, células da periferia da papila dentária se
diferenciam em odontoblastos, células responsáveis pela formação da dentina. O
restante da papila dentária constituirá a polpa no dente formado.
Durante
a dentinogênese, 2 etapas podem ser diferenciadas: formação da dentina
coronária e formação da dentina radicular. Ainda é necessário diferenciar o
momento inicial da dentinogênese, quando é formada a 1ª camada de dentina
(dentina do manto), da formação do restante da dentina (dentina circumpulpar).
O 1º evento da dentinogênese é a diferenciação dos odontoblastos, a partir das
células ectomesenquimais.
Diferenciação
dos odontoblastos
Células
ectomesenquimais da periferia da papila dentária se diferenciam em
odontoblastos
Na
fase de campânula, nos locais correspondentes às futuras cúspides, a atividade
mitótica interrompe-se e as células do epitélio interno do órgão do esmalte,
originalmente cúbicas, alongam-se tornando-se cilíndricas com núcleos alinhados
agora muito próximos ao estrato intermediário, sendo chamadas pré-ameloblastos.
Nessa época, as células da papila estão afastadas dos pré-ameloblastos deixando
uma estreita faixa acelular. As células ectomesenquimais da papila são
pequenas, de forma fusiforme ou estrelada, núcleo localizado centralmente em um
citoplasma escasso com poucas organelas. A matriz extracelular da papila é
constituída por abundante substância fundamental com poucas e finas fibrilas
colágenas. Quase imediatamente após as modificações nas células do epitélio
interno, outras mudanças são observadas na papila dentária subjacente. As
células ectomesenquimais da periferia da papila dentária (pré-odontoblastos),
aumentam de tamanho devido ao desenvolvimento das organelas de síntese e
secreção de proteínas, diferenciando-se em odontoblastos, com isso a faixa
acelular é eliminada gradualmente, passando a ser ocupada pelos odontoblastos.
Os
pré-ameloblasto induzem a diferenciação dos odontoblastos
A
diferenciação dos odontoblastos a partir das células ectomesenquimais
indiferenciadas da papila dentária é iniciada pela influência das células
alongadas do epitélio interno do órgão do esmalte. Associações entre o órgão do
esmalte e a papila dentária, demonstram que a interação entre esses tipos
celulares é essencial para a diferenciação citológica e funcional dos
ameloblasto e odontoblastos. A ação do epitélio interno sobre as células da
papila é mediada pela lâmina basal que está presente na interface epitélio-ectomesênquima.
Ao microscópio eletrônico, essa estrutura é constituída por uma lâmina densa
central, por uma lâmina lúcida, voltada para o epitélio interno e por uma
lâmina difusa muito menos distinguível, voltada para a papila dentária. Durante
o início da odontogênese, nas fases de lâmina dentária e botão, a lâmina difusa
é muito esparsa. Nas fases seguintes, essa lâmina difusa passa a conter maior
quantidade de material fibrilar e granular, ficando mais evidente. Avançando o
desenvolvimento, os curtos processos das células ectomesenquimais da periferia
da papila dentária vão ficando mais próximos da lâmina basal. Na fase que
precede a diferenciação dos odontoblastos, a lâmina basal subadjacente ao
epitélio interno do órgão do esmalte, tem sua composição já estabelecida: a
lâmina densa é constituída principalmente por colágeno tipo IV, laminia,
heparan sulfato e fibronectina enquanto as lâminas lúcida e difusa contêm
colágeno dos tipos I, I-trímero e III, ácido hialurônico e condroitins 4 e 6
sulfato, todos associados à lâmina densa. Esta é formada basicamente pelas
células do epitélio interno enquanto os colágenos tipo I, I-trímero e III, e os
condroitins 4 e 6 sulfato, presentes nas lâminas difusa e lúcida, são formados
pelas células ectomesenquimais da periferia da papila dentária.
A
lâmina basal desempenha importante papel na indução da diferenciação dos
odontoblastos
Na
fase de diferenciação dos odontoblastos ocorrem algumas modificações na lâmina
basal, especialmente do lado da papila dentária: o colágeno tipo III desaparece
e, na matriz extracelular da periferia da papila dentária tanto a fibronectina
como as glicosaminoglicanas que até então rodeavam as células ectomesenquimais
indiferenciadas, vão se localizar apenas em relação ao pólo distal dos
odontoblastos que estão em diferenciação. A diferenciação dos odontoblastos
seria controlada por um fluxo de informações circulantes entre as células
epiteliais e ectomesenquimais, com a secreção direta de mensageiros químicos a
partir dos pré-ameloblastos, os quais estariam interagindo com receptores
presentes na membrana plasmática das células ectomesenquimais da periferia da
papila dentária.
Fatores
de crescimento, integrinas e matriz extracelular participam na iniciação da
diferenciação dos odontoblastos
Essas
interações seriam mediadas pela matriz extracelular, sendo a lâmina basal uma
interface dinâmica e assimétrica que sofreria modificações conformacionais
influenciadas por atividades específicas das células adjacentes, as quais, por
sua vez, respondem frente a alguns fatores de crescimento como o TGFβ-I, como
em outros sistemas do nosso organismo onde a matriz extracelular desempenha um
papel importante para a migração e adesão, como para a divisão e diferenciação
das células.
As
membranas plasmáticas dos pré-ameloblastos e das células ectomesenquimais,
possuem receptores específicos (integrinas) para moléculas de adesão da
superfície celular, entre elas a laminina da lâmina basal. Essas moléculas por
sua vez, possuem domínios de ligação para colágeno, para proteoglicanas e para
moléculas de adesão do substrato, entre estas a fibronectina, que também se
ligam às integrinas das células. Todas essas mudanças na conformação das
superfícies celulares são reguladas por fatores de crescimento que são
polipeptídeos que iniciam a proliferação, migração e diferenciação em diversas
células durante os eventos morfogenéticos.
O processo
de diferenciação das células ectomesenquimais da periferia da papila dentária é
gradual. Além disso, durante as fases de botão, capuz e campânula vai
aumentando a duração do ciclo celular dessas células, como resultado da maior
duração da fase G1, a qual permite modificações transcripcionais. Os
odontoblastos são células pós-mitóticas; calculando-se que ocorram pelo menos
14 a 15 divisões entre o início da odontogênese e a diferenciação dos
odontoblastos. Durante a última divisão celular, o fuso mitótico orienta-se
perpendicular à lâmina basal, após interação do citoesqueleto com a matriz
extracelular através de receptores da membrana plasmática (integrinas). A
diferenciação propriamente dita inicia-se após a última divisão dos
pré-odontoblastos, sendo caracterizada pelos eventos: término do ciclo celular,
início da polarização e modificações transcripcionais e pós-transcripcionais.
Com
a diferenciação e polarização, os odontoblastos se tornam típicas células
secretoras de proteínas
Simultaneamente
com a diferenciação ocorre a polarização dos odontoblastos, controlada pelos
receptores da membrana plasmática, os quais modulam a atividade do
citoesqueleto. Componentes da matriz extracelular modificam a distribuição e
localização desses receptores de membrana. Quando ocorre a polarização os
odontoblastos se alongam e o núcleo permanece na extremidade oposta ao epitélio
interno, constituindo o pólo proximal, o retículo endoplasmático granular e o
complexo de Golgi desenvolvem-se paralelamente ao longo eixo da célula. No pólo
distal dos odontoblastos formam-se vários processos curtos. Depois, com a
deposição da matriz orgânica, que resulta no consequente afastamento dos
odontoblastos em direção é papila dentária e com o avanço da polarização,
forma-se um prolongamento único – o prolongamento odontoblástico – que mantém
ramificações próximas ao limite amelodentinário. A diferenciação final dos
odontoblastos e sua subsequente polarização, resultam no aumento da síntese de
colágeno tipo I e na supressão da síntese de colágeno tipo III. No início da
diferenciação, os odontoblastos aproximam-se, estabelecendo entre eles junções
gap. O posterior aparecimento de junções oclusivas entre eles relaciona-se aos
eventos finais de diferenciação e polarização dessas células.
Formação
da Matriz Orgânica da Dentina
Os
constituintes da matriz orgânica da dentina são produzidos pelos odontoblastos
A
matriz orgânica da dentina tem dois componentes: o fibrilar (fibrilas
colágenas) e substância fundamental interfibrilar. Principal colágeno da
dentina é do tipo I (90% da matriz orgânica). Colágeno tipo V está presente,
mas em proporção muito baixa. Os 10% restantes são constituídos pelas proteínas
não colágenas: sialofosfoproteína dentinária (DSPP) [que se desdobra na matriz em
sialoproteína dentinária (DSP) e fosfoproteína dentinária (DPP)], proteínas da
matriz dentinária 1, 2 e 3 (DMP1, DMP2 e DMP3) e proteínas morfogenéticas
dentinárias. Tanto a osteopontina, a osteocalcina e a osteonectina, abundantes
na matriz do osso, são encontradas em pequenas quantidades na dentina.
Proteoglicanas ricas em leucinas de cadeias pequenas como decorina, biglicana e
osteoaderina estão também presentes na matriz mineralizada da dentina, além de
proteínas séricas.
As
células responsáveis pela síntese e secreção da matriz orgânica da dentina são
os odontoblastos. Por ser o colágeno tipo I o mais abundante da matriz, os
odontoblastos recém-diferenciados apresentam as características
ultraestruturais típicas de uma célula sintetizadora e secretora de proteínas
com o pólo ou a extremidade proximal, do lado do núcleo, e distal, do lado da
matriz em formação.
A
formação dos constituintes da matriz pelos odontoblastos ocorre por mecanismos
característicos de células produtoras de material para exportação
Os
precursores iniciais do colágeno (cadeias pro-α1 (I) e pro-α2 (I)), são
sintetizados nos ribossomas do retículo endoplasmático granular e liberados
para o interior das cisternas. Em seguida, os túbulos e vesículas
intermediárias levam as cadeias pro-α para as distenções esféricas do primeiro
sáculo da face cis do Golgi, aonde são descarregadas. Uma vez no complexo de
Golgi, as cadeias se entrelaçam formando uma tripla hélice, constituindo dessa
maneira, o procolágeno, o qual migra de sáculo para sáculo em direção às
distenções cilíndricas da face trans do Golgi. Durante essa migração, o
procolágeno sofre a adição de carboidratos (glicosilação), após o que as
moléculas de procolágenos são conduzidas para o pólo distal da célula, via
vesículas transportadoras (grânulos de secreção). Graças à atividade de
microtúbulos e microfilamentos, os grânulos são levados à superfície da célula
para serem liberados por exocitose. Uma vez na matriz extracelular, enzimas
(pro-colágeno-peptidases) removem os propeptídeos, transformando o pro-colágeno
em tropocolágeno, que posteriormente se agrega e constitui as fibrilas
colágenas.
Os
elementos não fibrilares da matriz extracelular são sintetizados pelos
odontoblastos, seguindo vias similares aos precursores do colágeno.
Formação
da Dentina do Manto
Fibrilas
colágenas e vesículas da matriz são os elementos mais conspícuos da matriz
inicial da dentina
Começa
com a secreção dos principais constituintes da matriz orgânica, sendo as
fibrilas colágenas os elementos mais numerosos. Embora a maioria delas estejam
dispostas em várias direções, muitas fibrilas grossas (100nm de diâmetro)
dispõem-se perpendiculares à lâmina basal. Simultaneamente com a secreção das
primeiras fibrilas, aparecem conspícuos corpos arredondados ou ovais rodeados
de membrana, de tamanhos variáveis (50-200nm de diâmetro), denominados
vesículas da matriz, que brotam dos odontoblastos, passando a situar-se entre
as fibrilas colágenas.
O
odontoblasto em diferenciação desenvolve inicialmente vários processos curtos e
posteriormente um prolongamento único
Com
a presença dos primeiros componentes da matriz orgânica da dentina, os
pré-ameloblastos completam sua diferenciação, tornando-se ameloblastos, com sua
membrana plasmática distal ondulante, enquanto a lâmina basal vai se tornando
descontínua. A observação de lisosomas na porção distal dos ameloblastos,
sugere que estas células, em conjunto com certa atividade proteolítica dos
odontoblasto, seriam os responsáveis pela desagregação e remoção da lâmina basal.
Os ameloblastos recém-diferenciados emitem vários processos curtos que
estabelecem diversos “contatos” com os também curtos processos dos
odontoblastos, inclusive, com as vesículas da matriz. Nesta etapa inicial, cada
odontoblasto emite, em média, 2-3 processos curtos. Quase imediatamente, como
resultado do aumento da deposição da matriz e do consequente deslocamento dos
corpos celulares dos odontoblastos em sentido da papila dentária, tornam-se um
prolongamento único, bi ou trifurcado na extremidade distal.
A
mineralização da dentina inicia-se nas vesículas da matriz
Depois
de formada uma fina camada de matriz orgânica, começa a deposição de mineral.
Os primeiros cristais de hidroxiapatita são observados sob forma de finas
agulhas, nas vesículas da matriz, as quais dependendo do número de cristais
presentes em seu interior, tornam-se irregulares, com contorno frequentemente
angular. Nestes primeiros momentos de mineralização da dentina do manto, não há
deposição mineral no restante da matriz orgânica, mesmo nas fibrilas colágenas.
Após a mineralização da maioria das vesículas, observam-se grandes regiões
elétron-opacas correspondentes a matriz mineralizada, não mais sendo liberadas,
a partir daqui, novas vesículas da matriz. Essas regiões possuem um centro
mineralizado muito denso, com aparência semelhante à das vesículas da matriz
repletas de cristais. Ao redor desse centro, a matriz calcificada é menos
densa, em geral orientada em torno do longo eixo das fibrilas colágenas
situadas em volta. A continuação do processo de mineralização do componente
fibrilar da matriz leva ao estabelecimento de uma banda contínua de dentina
mineralizada, que fica abaixo do esmalte, que por volta dessa época está apenas
começando a ser formada.
A
dentina do manto é produzida pelos odontoblasto em diferenciação
Após
o início da diferenciação, os odontoblastos começam a secreção dos
constituintes da matriz orgânica da dentina liberando também as vesículas da
matriz. A matriz orgânica da dentina do manto é produzida pelos odontoblastos
em diferenciação (odontoblastos do manto ou imaturos). Posteriormente, quando a
formação da dentina termina, alcançando uma espessura que varia de 10 a 30 μm,
os odontoblasto alcançam sua completa diferenciação e polarização (tornando-se,
odontoblastos circumpulpares ou maduros), continuando a síntese e secreção dos
constituintes orgânicos da matriz, a qual, após mineralizar, constitui a
dentina circumpulpar. Durante a dentinogênese do manto começam a ser
estruturadas junções intercelulares entre as regiões distais dos odontoblastos
do manto, especialmente do tipo oclusivo, as quais participam na polarização
final dos odontoblastos. Posteriormente, entre os odontoblastos circumpulpares,
essas junções aparecem mais estruturadas. Tudo indica que o conteúdo de
colesterol da membrana plasmática do pólo distal aumenta durante a
diferenciação, ocasionando a diminuição da fluidez inicial, formando-se assim,
um domínio apical de membrana.
Formação
da Dentina Circumpulpar
Uma
vez terminada a formação da dentina do manto, os odontoblastos completamente
diferenciados produzem a dentina circumpulpar
A
formação da dentina do manto termina quando os odontoblastos alcançam sua
completa diferenciação e polarização. A partir daí, enquanto se deslocam
centripetamente , os odontoblastos continuam depositando as moléculas da matriz
orgânica, sendo que as fibrilas colágenas continuam sendo os elementos mais
numerosos. Porém, as fibrilas agora formadas apresentam um diâmetro máximo de
50nm e dispõem-se, quase na sua totalidade, orientadas em torno do longo eixo
dos túbulos dentinários. Além do colágeno, o restante dos componentes da matriz
extracelular é secretado quase que exclusivamente pelos odontoblastos, devido
aos complexos juncionais presentes entre suas membranas plasmáticas distais.
Embora essas junções oclusivas sejam do tipo macular ou focal, elas restringem
parcialmente a passagem de substâncias
através da via intercelular. Assim, as moléculas promotoras da mineralização,
secretadas para o interior da matriz, ali permanecem e associam-se com as
fibrilas colágenas, possibilitando sua calcificação na ausência de vesículas da
matriz.
Durante
a formação da dentina por aposição centrípeta, sempre permanece uma camada não
mineralizada de pré-dentina
Como
a formação ocorre por aposição centrípeta, a dentina do manto é externamente
adjacente a uma nova camada da matriz não mineralizada, chamada de pré-dentina,
a qual, por sua vez, constituirá quando mineralizada a 1ª camada de dentina
circumpulpar, esta por sua vez, também adjacente a outra camada recém-formada
de pré-dentina. Enquanto isso, os odontoblastos possuem um único processo, o
qual vai ficando rodeado por dentina mineralizada na extremidade mais distal, e
rodeado pela pré-dentina adjacente ao corpo do odontoblasto. Inicialmente,
durante a calcificação da dentina, permanece um espaço em volta do
prolongamento odontoblástico. Entretanto, uma vez atingida a espessura de
60-100μm, começa a ser secretada, provavelmente através das extremidades distais
dos prolongamentos, uma fina matriz orgânica de composição distinta, quase
totalmente desprovida de fibras colágenas, que se mineraliza rapidamente,
tornando-se ainda mais densa e homogeneamente calcificada do que a dentina
inicialmente formada. Essa camada muito fina em voltados prolongamentos, é a
dentina peritubular, e forma a parede do túbulo dentinário em toda a sua
extensão. O restante da dentina é chamada de intertubular e representa a maior
parte do tecido. Embora no início da dentinogênese a dentina peritubular comece
a ser formada após a dentina intertubular, uma vez formada mais ou menos 200μm
de dentina, as duas passam a ser formadas simultaneamente, persistindo esse
padrão até o término da dentinogênese circumpulpar.
Os
túbulos resultam da permanência dos prolongamentos odontoblásticos durante a
dentinogênese
A
dentina circumpulpar vai sendo formada por aposição, enquanto os odontoblastos
recuam em direção à papila dentária à medida que novas camadas de pré-dentina
são depositadas, deixando o prolongamento e suas numerosas ramificações
rodeados por dentina peritubular, porém, com uma camada muito fina de material
não calcificado entre eles, o espaço periodontoblástico. Assim sendo, a parede
de dentina peritubular que aloja o prolongamento e esse estreito espaço, adota
a forma de um longo túnel (túbulo dentinário). Os numerosos canalículos
oriundos do túbulo contêm as ramificações do prolongamento odontoblástico. Uma
vez formada, aproximadamente a metade da espessura total da dentina, o
prolongamento odontoblástico começa a se retrair enquanto continua a deposição
de nova pré-dentina. Com isso, as extremidades distais dos túbulos dentinários
vão ficando “vazios”, porém, preenchidos pelo fluido dentinário, muito
semelhante ao líquido intersticial do restante do organismo.
A
mineralização da dentina circumpulpar segue basicamente um padrão globular
Com
a mineralização da dentina do manto se inicia nas vesículas da matriz, a partir
das quais a mineralização progride para as fibrilas colágenas e para os espaços
interfibrilares localizados em sua volta, formam-se glóbulos de calcificação,
que vão crescendo pela deposição contínua de mineral. A coalescência desses
glóbulos resulta no aparecimento de pequenas regiões hipomineralizadas que
constituem a dentina interglobular. Todavia, após a formação de várias camadas
de dentina circumpulpar, o processo de mineralização torna-se mais regular,
sendo menos evidentes nas regiões interglobulares. Entretanto, o padrão de
mineralização da dentina continua sendo globular, porém, a partir de glóbulos
ou calcosferitos muito menores que também coalescem.
Formação
da Dentina Radicular
Na
dentinogẽnese radicular, as células epiteliais da bainha de Hertwig induzem a
diferenciação dos odontoblastos
O
início da formação da dentinogênese radicular, marca o início da fase de raiz
na odontogênese. A dentinogênese radicular ocorre de maneira muito semelhante à
coronária, mas com algumas diferenças: as fibrilas colágenas mais grossas da 1ª
camada de dentina radicular dispõem-se paralelas, porém não justapostas à
lâmina basal, isto é, paralelas ao longo eixo da raiz. Os odontoblastos
apresentam seus prolongamentos mais ramificados na sua extremidade distal,
próximos ao limite com o cemento do que na região coronária. Por essa razão,
nas preparações por desgaste, observa-se a camada granulosa de Tomes. Além
disso, os corpos dos odontoblastos da porção radicular são menos alongados do
que nos odontoblastos da coroa, sendo portanto, células cúbicas, em vez de
cilíndricas.
Desenvolvimento
da Polpa
A
polpa origina-se da papila dentária
De
origem ectomesenquimal, origina-se da papila dentária. As mudanças na papila
começam na fase de campânula, quando as células ectomesenquimais da sua
periferia diferenciam-se em odontoblastos. O restante da papila é constituído
de células indiferenciadas, fusiformes ou estreladas, com numerosos
prolongamentos citoplasmáticos e quase desprovidos de organelas, com uma
abundante matriz extracelular com escassas e finas fibrilas colágenas e grande
quantidade de substância fundamental. No início da fase de coroa é evidente a
vascularização da papila graças à penetração de ramos da artéria alveolar, os
quais chegam até a periferia onde está localizada a camada de odontoblastos
secretores. As primeiras fibras nervosas na papila aparecem mais tarde, quando
a fase de coroa está francamente estabelecida. Com o avançar da dentinogênese,
o volume da papila diminui devido à deposição centrípeta de dentina. A
transformação da papila em polpa dentária ocorre com a diminuição da
concentração de células ectomesenquimais, o aparecimento dos fibroblastos e o
aumento gradual das fibrilas colágenas na matriz extracelular. O colágeno
começa a distribuir-se de maneira diferente entre as regiões coronária e
radicular da polpa recém-formada. A transformação da papila em polpa se
completa, portanto, durante os estágios avançados da erupção dentária, quando
do aparecimento do dente na cavidade oral e não na fase de campânula, quando é
formada a camada de odontoblastos.
Estrutura
– Dentina primária
Dentina
formada até o fechamento do ápice radicular, compreende a dentina do manto e a
dentina circumpulpar.
Dentina
do Manto
Os
túbulos dentinários da dentina do manto não possuem dentina peritubular
A
primeira camada de dentina que se forma, alcança de 10-30μm de espessura, é
formada pelos odontoblastos do manto, isto é, seus constituintes são secretados
pelos odontoblastos enquanto estes estão diferenciando-se, isso determina
algumas diferenças entre a dentina do manto e a restante. Assim sendo, na
dentina do manto, a mineralização inicia-se a partir das vesículas da matriz,
as quais não mais existem na dentinogênese circumpulpar. Nesta última, a
mineralização progride principalmente através de fibrilas colágenas e moléculas
associadas. As fibrilas são grossas na dentina do manto e dispõem-se inicialmente
perpendiculares à lâmina basal, isto é, a futura junção amelodentinária,
enquanto que na dentina circumpulpar são finas e seguem uma orientação
aproximadamente paralela a esse limite, circundando os túbulos ou dispondo-se
irregularmente. Além disso, o grau de mineralização alcançado pela dentina do
manto é um pouco menor do que a dentina circumpulpar. Na dentina do manto, os
prolongamentos odontoblásticos são rodeados por uma matriz calcificada mais ou
menos homogênea, não possuindo, portanto, dentina peritubular.
A
dentina do manto estabelece juntamente com o esmalte, a junção amelodentinária
As
fibras de von Korff presentes da dentina do manto, quando empregado métodos
como impregnação argêntica, pode ser detectado através de microscopia de luz, são
fibras grossas entre os odontoblastos durante a dentinogênese do manto. Os
odontoblastos ainda em diferenciação começam a síntese e secreção dos elementos
da matriz orgânica (da dentina do manto) e após terem completado essa
diferenciação continuam secretando esses elementos (da dentina circumpulpar).
Assim, as fibrilas grossas são formadas pelos odontoblastos do manto enquanto
que as fibrilas mais finas pelos já diferenciados odontoblastos circumpulpares.
A dentina do mante estabelece com o
esmalte a junção amelodentinária.
Dentina
Circumpulpar
A
dentina circumpulpar constitui a maior parte da espessura da dentina. Embora
compreenda ainda a dentina primária e secundária, ambas apresentam basicamente
a mesma estrutura. Assim sendo, a dentina circumpulpar é constituída
estruturalmente pela dentina peritubular e pela dentina intertubular.
Túbulos
dentinários e espaço periodontoblástico
Os
túbulos percorrem toda a espessura da dentina
Os
túbulos dentinários constituem a característica principal da estrutura
dentinária. Estes são túneis originados pelo formação da dentina mineralizada
em volta do prolongamento odontoblástico. No dente formado, os túbulos nem
sempre contém prolongamentos em toda a sua extensão pois eles retraem quando a
metade da espessura da dentina circumpulpar está formada. Dessa forma, na
extremidade próxima ao limite amelodentinário, os túbulos ficam como túneis sem
prolongamentos, sendo ocupados apenas pelo líquido tissular (fluido
dentinário).
Os
túbulos dentinários seguem um trajeto sinuoso
Os
túbulos dentinários percorrem toda a espessura da dentina, sendo muito
ramificados junto ao limite com o esmalte, devido às ramificações dos
prolongamentos dos odontoblastos durante a dentinogênese do manto. Neste
região, as ramificações que possuem 0,5-1μm de diâmetro, constituem as
terminações em “delta” dos túbulos dentinários. O percurso dos túbulos ao longo
da espessura da dentina não é retilíneo, porque os odontoblastos durante a
formação por aposição da dentina, recuam seguindo um trajeto levemente sinuoso.
Por essa razão, os túbulos dentinários tem forma de um “S” alongado, sendo essa
sinuosidade sendo mais evidente na dentina coronária que na radicular. Na
dentina coronária, os túbulos são mais retilíneos nas regiões localizadas abaixo
dos vértices das cúspides do que nas regiões das vertentes. Além disso, devido
ao trajeto ondulado dos túbulos, o entrecruzamento entre eles ocorre com certa
frequência.
Os
túbulos, no conjunto , abrem como um leque no sentido da junção amelodentinária
Como
o diâmetro dos prolongamentos odontoblásticos é menor na sua extremidade distal
do que na região proximal, os túbulos dentinários formados em sua volta seguem
esse mesmo padrão, isto é, medem em torno de 1μm de diâmetro junto à junção
amelodentinária e 2,5μm do lado da pré-dentina. Como é menor a superfície da
dentina junto à pré-dentina em relação à junção com o esmalte, os túbulos abrem
como um leque no sentido da junção, ou seja, ficam mais próximos entre si na
região adjacente aos corpos dos odontoblastos do que na região mais externa. Ao
examinarmos áreas iguais na dentina nessas duas regiões encontraremos um número
diferente de túbulos: a dentina junto a junção amelodentinária contém em média
19000 túbulos por mm², enquanto na região adjacente à pré-dentina contém 45000.
Devido a formação contínua de dentina ao longo da vida, com o avançar da idade
ocorre esclerose nos túbulos, principalmente na extremidade distal desprovida
de prolongamento odontoblástico. Em indivíduos com mais de 50 anos, o diâmetro
dos túbulos na região mais externa da dentina diminui ou é totalmente
obliterada pela gradual deposição de dentina peritubular, nesse caso chamada
dentina esclerótica.
Os
túbulos possuem numerosas ramificações que se intercomunicam, denominadas canalículos
Embora
os túbulos dentinários sejam formados em volta dos prolongamentos
odontoblásticos, estes não são túneis únicos desde a região adjacente à
pré-dentina até sua extremidade final junto ao limite com o esmalte, pois
existem diversas comunicações entre os túbulos ao longo do seu comprimento, os
canalículos dentinários, que ocorrem a cada 3 a 5μm, formam um ângulo de 45º
com os túbulos. Muitos se estendem na dentina intertubular por aproximadamente
50μm, percorrendo assim distâncias correspondentes a mais de 2 túbulos
dentinários.
Em
dentes decíduos, a reduzida espessura da dentina no assoalho da câmara pulpar,
bem como a profusa ramificação dos túbulos dentinários nessa região, permitem a
propagação de lesões pulpares para a região interradicular.
Nas
regiões onde os túbulos dentinários contém prolongamento no seu interior,
existe entre a parede mineralizada de dentina peritubular e a membrana
plasmática do prolongamento, uma espaço estreito chamado espaço
periodontoblástico, preenchido por fluido dentinário e uma fina matriz não
minaralizada constituídas por escassas e delicadas fibrilas colágenas, além de
glicosaminoglicanas. A presença destes últimos componentes gera às vezes, a
aparência de uma estrutura membranosa em algumas preparações descalcificadas,
denominada lâmina limitante ou bainha de Neumann. Atribui-se a essas
glicosaminoglicanas um papel no controle da mineralização que levaria à
obliteração do túbulo. Contudo, a espessura do espaço periodontoblástico é tão
pequena que deve ser considerado como um espaço virtual. A osteoporina,
proteína não colágena, seria o constituinte principal da lâmina limitante.
Existe
um fluxo constante de fluido tissular da polpa em direção aos túbulos e
canalículos da dentina, constituindo o fluido dentinário, que representa cerca
de 30% do volume total da dentina.
Em
um dente vivo, durante um preparo cavitário, forma-se uma camada amorfa (smear
layer) que oblitera túbulos e canalículos, tornando-se difícil manter a
superfície dentinária seca e estéril.
Dentina
Peritubular
A
dentina hipermineralizada constitui as paredes dos túbulos
A
dentina peritubular constitui as paredes dos túbulos, sendo uma dentina
hipermineralizada quando comparada com a dentina intertubular. Por isso, a
dentina peritubular pode ser vista na microscopia eletrônica de varredura,
porém não aparece nas preparações descalcificadas, dando uma falsa impressão de
maior espessura do espaço periodontoblástico e, consequentemente, dos túbulos
dentinários, sendo difícil determinar a composição exata da matriz orgânica,
havendo sido observada apenas a presença de escassas fibrilas colágenas. Sua
espessura é de aproximadamente 0,7μm junto ao limite amelodentinário,
diminuindo em direção à polpa, alcançando 0,4μm próxima à pré-dentina. Sua
formação ocorre durante toda a vida, podendo aumentar por estímulos externos,
como atrito por exemplo. Sua espessura aumenta com a idade, podendo ocorrer a
obliteração dos túbulos na extremidade mais externa, onde nessa época, não há
mais prolongamentos odontoblásticos.
Dentina
Intertubular
A
dentina intertubular constitui a maior parte da dentina e ocupa todo espaço
entre os túbulos
A
porção da dentina que fica entre as colunas de dentina peritubular, é a dentina
intertubular, constituindo a maior parte do volume da dentina. Ela difere da
anterior por ter matriz orgânica constituída principalmente de fibrilas
colágenas, orientadas perpendiculares ao longo eixo dos túbulos dentinários.
Enquanto umas fibrilas circundam os túbulos, formando uma malha ao redor da dentina
peritubular que se assemelha a um novelo de lã, outras dispõem-se
irregularmente nas regiões mais centrais.
Durante
o condicionamento ácido da dentina, além da remoção parcial da dentina
peritubular, ocorre exposição dos constituintes orgânicos da dentina
intertubular, criando espaços que permitem a penetração de materiais
restauradores adesivos, formando a denominagabaritogGda camada híbrida. Além
disso, os adesivos penetram pelo interior dos túbulos e canalículos
dentinários, constituindo as projeções resinosas ou “tags”.
Dentina
Interglobular
A
dentina interglobular é constituída por regiões de matriz hipomineralizada
São
áreas de dentina hipomineralizada localizadas na porção mais externa da dentina
coronária, frequentemente no limite entre a dentina do manto e a circumpulpar.
Resultam de inadequada fusão de glóbulos de mineralização ou calcosferitos ao
coalescerem, ficando entre eles regiões com seus seus contornos em forma de
arco. As áreas da dentina interglobular são percorridas pelos túbulos
dentinários da mesma maneira que as outras regiões de dentina circumpulpar.
Entretanto, como a falha está na mineralização da matriz, os túbulos carecem,
nessas regiões de dentina peritubular.
Linhas
Incrementais
A
formação de dentina segue um padrão incremental
A
formação da matriz orgânica da dentina e sua mineralizaçãoseguem padrões
rítmicos: longas fases de formação de dentina são seguidas por curtos períodos
de repouso, determinando a formação de linhas incrementais perpendiculares ao
longo eixo dos túbulos dentinários, chamadas linhas de von Ebner. Em dentes
humanos, a distância entre as linhas de von Ebner é de aproximadamente 20μm.
Entretanto, outras linhas são observadas na dentina, as quais embora tenham sua
orientação similar às anteriores, são consequências de distúrbios ou alterações
metabólicas (por exemplo, o momento do nascimento, ou doenças na infância) que
ocorrem durante o processo da dentinogênese. Linhas de von Ebner mais
acentuadas são chamadas linhas de Owen, têm distâncias variáveis entre elas e
se apresentam em número também variável.
Apesar
das linhas de von Ebner corresponderem às linhas de Retzius do esmalte, são as
linhas de Owen as que refletem o número e periodicidade característica das
linhas de Retzius. Um exemplo é a linha neonatal, que enquanto na dentina é uma
linha de Owen, no esmalte corresponde a uma linha ou estrias de Retzius. Essas
linhas são o resultado de um período mais longo de repouso, calculado em
aproximadamente 15 dias, na formação dos tecidos dentários que ocorre no momento
do nascimento. A linha neonatal é observada na dentina de todos os dentes
decíduos e nas regiões das cúspides dos primeiros molares permanentes.
Camada
Granulosa de Tomes
A
camada granulosa de Tomes é formada pelas numerosas ramificações e alças terminais
dos prolongamentos odontoblásticos
Na
porção radicular dos dentes preparados por desgaste observa-se, na região mais
periférica da dentina, uma camada de aspecto granuloso. Esses grânulos
representam pequenos espaços nas lamelas desgastadas, os quais nessas
preparações, são preenchidos por ar, provocando a refração do feixe de luz
durante sua observação no microscópio de luz, aparecendo escuros. Esses espaços
são devidos ao fato que durante a formação da camada mais externa da dentina
radicular, os prolongamentos odontoblásticos ramificam-se profusamente,
adotando a forma de alças ao redor das quais é formada a dentina propriamente
dita.
Dentina
Secundária e Dentina Terciária ou Reparativa
A
deposição da dentina ocorre durante toda a vida, porém em ritmo mais lento
A
dentina primária se forma até que se é completado o ápice radicular. A
deposição de dentina ocorre a vida inteira, porém mais lentamente. A camada
formada após o fechamento do ápice da raiz é a dentina secundária,
estruturalmente similar à dentina primária, apresentando apenas leve mudança na
direção dos túbulos. Constituem as duas,
dentina circumpulpar. Apesar da dentina secundária ser depositada em
todas as áreas da dentina voltadas para a polpa, ela apresenta maior espessura
na face palatina ou lingual dos dentes anteriores e no assoalho da câmara
pulpar dos posteriores; nos canais radiculares é depositada uniformemente em
todas as suas paredes.
A
constante deposição da dentina secundária durante a vida do indivíduo gera
maior dificuldade no acesso à câmara pulpar e/ou canais radiculares durante
tratamento endodôntico realizado em pacientes de idade avançada.
A
dentina terciária possui estrutura irregular e pode ser reacional ou reparativa
Frente
a fatores como atrito e cáries, é possível verificar a formação de uma outra
camada de dentina, a dentina terciária do tipo reacional, constituindo uma
tentativa dos odontoblastos de formar uma barreira, restabelecendo a espessura
da dentina, ficando assim mais afastados dos fatores que significam agressão. A
dentina terciária reacional é irregular, não tendo portanto, a estrutura
tubular ordenada das dentinas primária e secundária. A dentina terciária
reparativa é formada por células indiferenciadas da polpa, originando-se, na
maioria das vezes, um tecido do tipo osteóide.
Outros
Tipos de Dentina
Além
da ortodentina, existem a osteodentina, a plicidentina e a vasodentina. Outro
tipo de tecido mineralizado de origem mista epitelial e ectomesenquimal – o
enamelóide – recobre a dentina e ocorre em algumas espécies. A osteodentina é o
tipo mais comum de dentina depois da ortodentina, é abundante em peixes,
formada por pequenos túneis interligados e anastomosados, contendo tecido
pulpar, com odontoblastos na periferia que emitem prolongamentos curtos que
penetram o tecido calcificado. A osteodentina forma-se subjacente à polpa
propriamente dita, formando desta maneira uma espécie de inserção. A
plicidentina forma-se pelo pregamento acentuado da dentina que divide a polpa
em estreitas lamelas longitudinais, existe apenas em algumas espécies de
répteis. A vasodentina caracteriza-se pela presença de capilares dentro do
tecido dentinário. Estes vasos ficam aprisionados na dentina durante a
dentinogênese e permanecem viáveis no adulto, com células endoteliais. O
enamelóide é um tecido formado pelos odontoblastos, porém com uma contribuição
importante do epitélio interno do órgão do esmalte. A sua estrutura é muito
parecida com o esmalte. Possui uma camada basal com cristas minerais
depositadas irregularmente, sobre a qual deposita-se uma outra camada de
cristais paralelos à superfície. Recobrindo a superfície existe ainda outra
camada muito fina, lisa e brilhante de mineral. O enamelóide é um tecido
abundando em peixes e tubarões.
Pré-Dentina
A
pré-dentina é uma camada não mineralizada que permanece no dente adulto
separando os odontoblastos da dentina mineralizada
Como
a formação da dentina é por aposição, enquanto a dentinogênese está ocorrendo,
permanece sempre uma camada de matriz orgânica não mineralizada, entre a
dentina calcificada e os corpos celulares dos odontoblastos, chamada
pré-dentina. Depois de formada a espessura total da dentina, uma camada de
pré-dentina de aproximadamente 30μm permanece separando-a da camada de
odontoblastos. Tal como ocorre no tecido ósseo onde o pré-osso ou osteóide
separa a matriz mineralizada dos osteoblastos ou das células de revestimento
ósseo, a pré-dentina evita o contato da dentina mineralizada com a polpa, que
poderia reabsorvê-la se esse contato ocorresse.
Na
pré-dentina, a matriz extracelular é também constituída principalmente de
fibrilas colágenas e contém maior quantidade de proteoglicanas,
glicosaminoglicanas do que a dentina mineralizada.
Em
caso de necrose pulpar, a camada de pré-dentina não está mais presente. Devido
a sua natureza orgânica ela se desintegra durante o processo de degeneração
necrótica da polpa.
Polpa
Dentária
Tecido
conjuntivo frouxo com duas camadas periféricas, a camada de odontoblastos e a
região subodontoblástica.
Odontoblastos
Os
odontoblastos dispõem-se em paliçada, constituindo uma só camada de células
acolada à pré-dentina
São
células de origem ectomesenquimal responsáveis pela formação da dentina. Na
dentinogênese, e no dente formado, dispõem-se em paliçada, constituem uma só
camada de células acolada à pré-dentina, contornando a periferia da polpa
dentária. Todavia, embora a camada odontoblástica seja considerada a região
mais periférica da polpa, os odontoblastos, após formarem a dentina, mantém com
esse tecido uma estreita relação, pois os seus prolongamentos ficam contidos
nos túbulos dentinários. Assim, os odontoblastos possuem duas partes: o corpo
celular e o prolongamento.
Na
coroa os odontoblastos apresentam seu corpo celular com forma cilíndrica, alcançando
50-60μm de altura, o qual vai diminuindo em sentido radicular, tornando-se
células cúbicas no terço apical da raiz. Os odontoblastos são mais numerosos
por unidade de área, na coroa do que na raiz. A camada odontoblástica apresenta
um falso aspecto de pseudoestratificação na porção coronária enquanto que na
raiz permanece com a aparência de uma única camada de células.
No
dente formado os odontoblastos podem estar sintetizando e secretando ou em
estado de repouso
Por
serem células sintetizadoras e secretoras de proteínas, principalmente colágeno
tipo I, odontoblasto apresentam as características típicas desse tipo de
células. No dente formado os odontoblastos podem estar sintetizando e
secretando ou em estado de repouso, quando então as organelas de síntese e
secreção não são tão evidentes. Contudo, os odontoblastos completamente
diferenciados, seja qual for o seu estado funcional, são células altamente
polarizadas com seu núcleo localizado no pólo proximal, adjacente à região
subodontoblástica. O abundante retículo endoplasmático granular, que se dispõe
em grande parte paralelamente ao longo eixo da célula, localiza-se na região
lateral e supranuclear. O complexo de Golgi é muito desenvolvido e consiste de
sáculos com distensões laterais, esféricas ou achatadas, constituindo grupos,
cada um dos quais é formado por 2 ou 3 sáculos achatados e curvados. A
superfície convexa (face cis) está intimamente relacionada às pequenas
vesículas intermediárias derivadas do retículo endoplasmático granular. A superfície
côncava (face trans), por outro lado, é o local aonde originam-se vesículas de
secreção com conteúdo finamente granular ou filamentoso e lisosomas. Adjacentes
às regiões do complexo de Golgi, estão também presentes pequenas vesículas
cobertas de 50-70nm de diâmetro e alguns lisosomas. As mitocôndrias estão
uniformemente distribuídas no corpo celular dos odontoblastos, embora estejam
geralmente mais próximas às cisternas de retículo endoplasmático granular. A
extremidade distal do corpo celular apresenta-se pobre em organelas, porém
apresenta numerosas lisosomas bem como vesículas e vacúolos contendo material
provavelmente endocitado. A região possui constituintes do citoesqueleto bem
desenvolvidos, representados por filamentos de actina, filamentos intermediários
e microtúbulos, que apesar de serem encontrados em toda a célula, são numerosos
e característicos da metade distal dos odontoblastos.
Os
odontoblastos estabelecem numerosos contatos através de junções intercelulares
Os
corpos celulares dos odontoblastos estabelecem contato entre si através de
numerosas junções intercelulares. Junções aderentes do tipo fáscia ou mácula
encontram-se ao longo de sua superfície lateral, porém, sem constituir
desmossomas. Outro tipo juncional é constituído pelas inúmeras junções
comunicantes. Na extremidade distal dos odontoblastos, característicos
complexos juncionais são constituídos por algumas junções comunicantes e por
numerosas junções aderentes, estas últimas rodeando a célula por inteiro
(zonular). À semelhança de células epiteliais, uma típica trama terminal está
presente na extremidade distal do corpo dos odontoblastos. Esses complexos
juncionais apresentam também junções oclusivas, porém do tipo macular ou focal
e não zonular. Por essa razão, a camada de odontoblastos compartimentaliza
parcialmente a dentina e a pré-dentina em relação à polpa, fenômeno
estabelecido nas fases iniciais da dentinogênese.
O
prolongamento é a porção do odontoblasto que permanece dentro dos túbulos
dentinários
O
prolongamento odontoblástico possui poucas organelas citoplasmáticas, tendo um
bem desenvolvido sistema de microtúbulos e microfilamentos que se dispõe
seguindo seu longo eixo. Os microtúbulos provavelmente participam do transporte
de grânulos de secreção. Na sua base o prolongamento possui também elementos do
sistema endosômico-lisosômico e vesículas, o que sugere que nesta região ocorra
a liberação de enzimas do tipo metaloproteinases na pré-dentina durante a
dentinogênese, resultando na degradação e remoção de certos componentes. Após
atravessar a pré-dentina, o prolongamento penetra no túbulo dentinário,
contendo às vezes, lososomas no seu interior. O prolongamento possui maior
diâmetro na sua base e afina-se progressivamente até sua extremidade.
Região
Subodontoblástica
Fica
abaixo dos odontoblastos, possui duas zonas: uma mais periférica (zona pobre em
células), e outra subjacente à anterior (zona rica em células).
Zona
pobre em células
A
zona pobre em células é atravessada por numerosos prolongamentos de células subjacentes,
vasos e fibras nervosas
Esta
zona é atravessada por numerosos prolongamentos de células subjacentes, os
quais ramificam-se muito, estabelecendo contatos entre eles e com as
superfícies basais dos odontoblastos. Esses contatos são representados
principalmente por junções comunicantes e por algumas junções aderentes. Em
dentes humanos esta zona tem aproximadamente 40µm de espessura, sobretudo na polpa
coronária onde é mais evidente. Além dos prolongamentos celulares, esta zona
apresenta numerosos vasos sanguíneos, os quais constituem o plexo capilar,
cujas ramificações penetram até a camada odontoblástica, onde estabelecem alças
entre os odontoblastos. Também, a zona pobre em células é atravessada por
fibras nervosas, principalmente do tipo amielínico, que também dirigem-se para
a camada odontoblástica, podendo atingir a pré-dentina e a parte inicial dos
túbulos dentinários.
Zona
rica em células
A
zona rica em células é constituída principalmente por células indiferenciadas
Esta
zona é constituída pelos corpos das células que emitem seus prolongamentos para
a zona celular. Estas células têm na maioria das vezes, forma bipolar,
apresentando prolongamentos que se dirigem para a região central da polpa
também. Embora algumas destas células sejam fibroblastos (quase todos em estado
de repouso), a maioria delas são células indiferenciadas. Esta zona rica em
células é muito mais distinguível na polpa coronária do que na porção pulpar
radicular.
O
fato da região subodontoblástica ser mais evidente na polpa coronária, que está
relacionada à porção do dente voltada para o meio bucal, indica a alta
potencialidade metabólica dessa região pulpar, especialmente no que se refere a
processos de reparação e diferenciação de novas células quando as situações
assim o requerem.
Região
Central da Polpa
A
região central da polpa é constituída por um tecido conjuntivo frouxo singular
As
células mais abundantes na região central da polpa são os fibroblastos que
apresentam seu característico aspecto fusiforme com um núcleo central ovóide e
longos prolongamentos. No seu citoplasma, as típicas organelas de síntese e
secreção de proteínas refletem sua capacidade de produção e renovação dos
elementos da matriz extracelular, principalmente o colágeno. Na extensão total
da polpa, os fibroblastos distribuem-se regularmente, podendo ser encontrados
em diversos estados funcionais, ativo ou em repouso, constituindo neste último
caso, os fibrócitos.
Outro
tipo celular da polpa são as células indiferenciadas, presentes até mesmo na
polpa completamente formada. Embora na sua maioria estas células estejam
presentes na região subodontoblástica, elas são também detectadas no restante
da polpa, principalmente adjacentes aos capilares sanguíneos.
Macrófagos
e linfócitos, células típicas do sistema imune em geral, também fazem parte da
população celular da região central da polpa, desempenhando principalmente
funções de reconhecimento e processamento de antígenos bem como a fagocitose de
elementos necróticos. Outras células como os plasmócitos, não são constituintes
usuais da polpa dentária, aparecendo apenas nos casos de inflamação (pulpite)
crônica.
A
matriz extracelular da polpa é constituída por elementos fibrosos e por
substância fundamental. O colágeno é o constituinte fibroso mais abundante.
Apesar dele estar presente ao longo de toda a polpa, sua distribuição não é
uniforme. Na polpa radicular as fibras colágenas estão dispostas mais
densamente do que na polpa coronária onde elas são mais esparsas. Todavia a
polpa da coroa dos incisivos e caninos contêm mais colágeno do que os
pré-molares e molares. A maior parte das fibrilas colágenas da polpa é do tipo
I, mas também encontram-se do tipo III correspondentes às fibras reticulares. E
escassas fibras oxitalânicas têm sido identificadas na polpa coronária. Outro
tipo de fibras, as elásticas, apenas fazem parte das paredes dos vasos
sanguíneos calibrosos.
A
substância fundamental, devido a ser constituída por abundantes proteoglicanas,
glicosaminoglicanas, glicoproteínas e água, constitui um característico gel que
embebe os elementos celulares e fibrilares.
A
remoção da polpa, e por conseguinte dos odontoblastos, não acarreta necrose da
dentina, permitindo assim o tratamento endodôntico.
Inervação
do Dente e Sensibilidade Dentino-Pulpar
Nervos
contendo fibras sensitivas provenientes do nervo trigêmio e ramos simpáticos do
gânglio cervical superior penetram através do forame apical e dos forames
acessórios como grossos feixes. Esses feixes, constituídos tantos por axônios
mielínicos como amielínicos, atravessam a polpa do canal radicular, chegando,
assim, até a câmara pulpar. Nessa região ramificam-se profusamente em direção à
periferia da polpa, especialmente na região subodontoblástica aonde constituem
um plexo nervoso característico denominado plexo de Raschkow.
Enquanto
a maioria dos axônios terminam no plexo subodontoblástico, alguns deles,
desprovidos de revestimento da célula de Schwann, atravessam a camada de
odontoblastos, alcançando a pré-dentina. Poucos axônios, ainda, penetram na
porção inicial dos túbulos dentinários, ficando em íntimo contato com o
prolongamento odontoblástico.
A
dor de origem dentino-pulpar possui características especiais, sendo que até o
momento não existem bases conclusivas para explicar sua exata natureza.
Seja
qual for o estímulo no complexo dentino-pulpar (bacteriano, térmico, mecânico
ou químico), a sensibilidade é sempre traduzida como dor. Além disso, regiões
diferentes da dentina possuem graus de sensibilidade dolorosa também
diferentes. Assim sendo, maior
sensibilidade dolorosa existe tanto na dentina superficial, próxima a junção
amelodentinária, como na dentina profunda, próxima da polpa. Tem-se proposto
três teorias para explicar o sensibilidade dolorosa dentinária.
A
1ª diz que devido a presença de finas fibras nervosas na porção inicial dos
túbulos dentinários, os estímulos atingiriam diretamente essas terminações
nervosas. Entretanto, esses axônios não são encontrados em todos os túbulos, e
quando presentes, estão restritos à porção inicial dos túbulos, não alcançando
nem um terço da sua extensão. Não sendo, portanto, essa teoria compatível.
A
2ª diz que os odontoblastos e seus prolongamentos funcionariam diretamente como
receptores sensoriais. Uma das razões que levaram a formulação dessa teoria é o
fato dos odontoblastos serem originários da crista neural e de possuírem
numerosas junções comunicantes. Os odontoblastos manteriam uma certa capacidade
de transdução de impulsos nervosos. Entretanto, ainda existem dúvidas sobre a
extensão do prolongamento odontoblástico, que aparentemente alcança apenas um
terço do túbulo dentinário. Além disso, o potencial de membrana dos
odontoblastos seria muito baixo para a transdução e propagação de impulsos
nervosos.
A
3ª denominada hidrodinâmica, é a mais cotada para explicar a sensibilidade
dentinária. Ela baseia-se no fato dos túbulos dentinários estarem preenchidos
pelo fluido dentinário, no espaço periodontoblástico quando o prolongamento
está presente, ou na totalidade do túbulo e canalículos se o prolongamento não
estiver mesmo presente na dentina superficial. Uma vez atingida a dentina, os
diversos estímulos produziriam leve movimentação desse líquido, gerando com
isso, ondas que acabariam atingindo as fibras nervosas da porção inicial dos
túbulos e do plexo subodontoblástico. A presença de junções oclusivas focais
entre os odontoblastos, portanto não zonulares, permitiria a transmissão das
ondas pelos espaços intercelulares para a região subodontoblástica. Esta teoria
explica a razão pela qual a dentina superficial, aonde os túbulos dentinários
são mais profusamente ramificados, é extremamente sensível, mesmo na ausência
de prolongamento odontoblástico e de terminações nervosas nessa região.
Apesar
disso, é provável que dependendo do estímulo e da região ou profundidade de
dentina, vários mecanismos poderiam estar envolvidos simultaneamente. Cumpre
notar que a presença de túbulos abertos ou obliterados pode influenciar a
sensibilidade da dentina.
Suprimento
Vascular da Polpa
Artérias
de pequeno calibre provenientes das artérias alveolares superior e inferior
penetram na polpa através do forame apical e dos forames acessórios. Essas
artérias atravessam longitudinalmente o canal radicular em direção à câmara
pulpar enviando pequenos ramos colaterais que chegam até a região
subodontoblástica aonde se ramificam profusamente constituindo um plexo
vascular.
Na
câmara pulpar, as artérias se ramificam em arteríolas que se dirigem para a
periferia da polpa aonde capilares formam um característico plexo na região
subodontoblástica. A partir dessa região, capilares muito finos atravessam a
zona pobre em células chegando até a camada odontoblástica, aonde formam alças
entre os odontoblastos. A presença desses capilares, geralmente fenestrados, na
camada odontoblástica é bastante evidente durante a dentinogênese, razão pela
qual presume-se que estejam envolvidos no rápido transporte de nutrientes para
os odontoblastos secretores. Uma vez que o dente completa sua formação, a
presença dessas alças capilares entre os odontoblastos diminui, ficando a
maioria restritos à região subodontoblástica.
Numerosas
anastomoses arteriovenosas estão presentes na polpa coronária, sendo que o
retorno venoso segue o mesmo percurso da porção arterial. Assim sendo,
numerosos vasos sanguíneos são observados nas diversas regiões da polpa. As
veias atravessam longitudinalmente o canal radicular, recebendo os ramos da
periferia da polpa radicular e saindo através do forame apical e dos forames
acessórios.
Vasos
linfáticos também estão presentes na polpa, originando-se na polpa coronária e
dirigindo-se em direção ao forame apical. Uma vez no ligamento periodontal,
estes reúnem-se com os linfáticos aí presentes, chegando posteriormente até os
linfonodos submentonianos, submandibular e cervical profundo.
Com
o avançar da idade ocorre redução do volume da polpa, diminuição dos
componentes celulares, aumento do colágeno, presença de massas calcificadas e
redução dos suprimentos sanguíneo, linfático e nervoso.
Fonte:
KATCHBURIAN, Eduardo. Histologia e embriologia oral: texto, atlas, correlações clínicas. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário